COMO ATIVAR OS SEUS PONTOS FORTES
Será que apenas perguntar “que significado determinada palavra ou acontecimento tem para mim?“ já é uma técnica? Sim - e de importância crucial, na medida em que o significado que atribuímos a palavras ou atos é muito pessoal. Para um, a palavra recheio pode trazer à mente a imagem de algum doce, ao passo que para outro pode evocar o miolo da revista Playboy. Uma fala: “Estou apavorada” referindo-se ao medo que está sentindo de morrer em decorrência de uma cirurgia de alto risco; outra diz: “Estou apavorada” mas referindo-se apenas ao receio de não se sairé bem nos exames. As palavras podem ser as mesmas, mas os perigos enfrentados, não.
O problema é que tendemos a falar (e pensar) de um jeito que é quase uma abreviação mental. Por vezes, usamos um estilo de linguagem que disfarça as idéias desagradáveis por meio de expressões mais suaves (eufemismo) e ao invés de tornar claro o significado, apenas o obscurece ainda mais. Um indivíduo pode reclamar de estar tendo “uma semana péssima”, querendo dizer que “não está conseguindo fazer tudo o que gostaria”. Outro pode reclamar de estar tendo uma “péssima semana” também, só que querendo dizer que “está de tal modo deprimido que tem ímpetos de me matar”. Não admira que o resultado seja uma confusão sem fim.
Os problemas de comunicação geralmente são consequência do fato de a gente simplesmente partir do princípio de que o outro está sempre pensando o mesmo que nós – o que não necessariamente é verdade. João diz: “Eu gosto de você”, tentando dizer à Maria que não a ama, mas de uma maneira que não fira seus sentimentos; está querendo dizer que se preocupa com ela e quer que sejam amigos. Maria, porém, ouve: “Eu gosto de você” e o traduz como “eu te amo”, porque para ela “gostar” é isso. Tanto um quanto a outra ficariam bem melhor se João se limitasse a dizer exatamente aquilo que quer dizer.
Os pensamentos abreviados podem ser comparados a uma buzina de automóvel. Às vezes nós buzinamos para avisar ao motorista da frente que o sinal abriu e é para ele andar. Noutras vezes, buzinamos para chamar a atenção de um amigo que avistamos na calçada. Infelizmente, nas duas situações o som da buzina é igualzinho - de modo que buzinamos para chamar a atenção do amigo na calçada e o motorista da frente abaixa o vidro e grita: “Está buzinando para quê? Não está vendo que o sinal está vermelho?!”
Além de todos os problemas decorrentes da dificuldade de se transmitir para nossos interlocutores exatamente aquilo que estamos querendo dizer, existem aqueles causados pela dificuldade de se transmitir aquilo que queremos dizer para nós mesmos.
Nos nossos próprios pensamentos, lançamos mão da mesma linguagem cifrada, as mesmas abreviações e eufemismos que utilizamos na nossa comunicação com os outros – e esses pensamentos acarretam uma reação emocional que quase sempre só serve para piorar a situação.
Maria finalmente se dá conta de que João não a ama e pensa: “Estou arrasada. Meu mundo caiu”. Resultado: ela se sente arrasada, como se não houvesse, de fato, lhe sobrado nada.
Todavia, o que exatamente ela quer dizer com esses eufemismos? Que João não a ama. Que seu amor não é correspondido. Mas será mesmo que seu mundo caiu? O que ela quer dizer com mundo? Seus amigos fazem parte desse mundo? Sua família, por acaso, faz parte desse mundo? Será que ela ainda tem amigos? Seu emprego faz parte desse mundo? Ela ainda tem emprego? Sua saúde faz parte desse mundo? Ela continua saudável?
Perguntar-se o que exatamente significam os pensamentos que a estão afligindo não vai fazer com que ela se sinta melhor por não ser amada por João, mas a ajudará a lidar melhor com o problema exato, a perda e a crise em que se encontra; vai ajudá-la também a adotar outras técnicas.
Contudo, o primeiro passo para lidar com qualquer palavra ou acontecimento que provoque uma reação emocional é parar e perguntar-se: “O que exatamente está passando pela minha cabeça? Qual o significado dessas idéias? Como estou interpretando esse acontecimento? Que significado estou atribuindo a esse evento na minha vida?
Às vezes, nos chamamos de “perdedores” quando o que queremos dizer é: ”Em três ocasiões eu deixei de obter êxito em algo que estava tentando, e isso me deixa muito chateado”.
Podemos dizer também ”estou furioso”, ou “estou indignado”, “não adianta”, “estou sobrecarregado”, e similares – e paramos por aí, deixando que essas emoções criem raízes e desabrochem. Entretanto, assim como é difícil – quando não impossível – para duas pessoas diferentes saberem qual atitude tomar uma com a outra quando ocorre algum mal-entendido, é igualmente complicado – quando não impossível - um indivíduo saber o que fazer quando está com a cabeça repleta de metáforas incompreensíveis.
Assim precisamos comunicar com clareza para nós mesmos o significado dos nossos pensamentos.
Como ativar os seus pontos fortes II
Ponha o óbvio em dúvida
Às vezes sabemos exatamente o que queremos dizer. Temos a mais absoluta convicção de que estamos certos quanto à determinada coisa. Acreditamos firmemente que temos razão de estarmos irritados, ansiosos, culpados ou deprimidos. A técnica que pode ser necessária, aqui, é a do questionamento das evidências.
Que evidências? Os fatos em que se basearam as nossas conclusões de que temos toda a razão do mundo de estarmos irritados, ansiosos, culpados ou deprimidos. O que estamos achando que aconteceu? Como podemos ter tanta certeza?
“Porque é óbvio, só por isso.“ Ou: “Todo mundo sabe disso.” Ou: “Eu sei disso no fundo do meu coração.”. Quando nos ocorrem justificativas desse gênero ou algum tipo de generalização, o que queremos dizer é: “Não tenho nenhuma prova concreta. Estou reagindo com base única e exclusivamente nos meus sentimentos” – o que não é boa idéia. Afinal, os sentimentos tanto podem estar errados (provavelmente com mais freqüência) quanto certos.
Evidentemente, às vezes acreditamos ter evidências palpáveis. A questão é que não definimos exatamente quais “evidências” são essas. Feita essa definição, podemos analisá-las: será que são confiáveis? Será que não existe alguma outra explicação possível?
O escritor francês Guy de Maupassant usou a tendência humana a tirar conclusões precipitadas sem se dar ao trabalho de verificar as evidências como base de muitos de seus contos. Em O colar de diamantes, uma mulher toma emprestado um colar de uma amiga rica e o perde. Então, compra um colar de diamantes para substituir o que foi perdido, a fim de que a amiga jamais saiba, mesmo que precise trabalhar anos a fio para pagar. Só anos mais tarde, exaurida pelo fardo que tem de carregar, é que ela vem a saber que o colar original era de contas de vidro.
Pode-se dizer que tirar conclusões precipitadas é o exercício predileto de quase todo mundo. Por exemplo: “Sei que ele está bravo porque o ouvi bater a porta.”
Pode ser. Pessoas bravas batem portas. Mas, se essa suposta irritação nos afeta, melhor então verificar as evidências. É certo que foi ele quem bateu a porta? É certo que de fato a bateram? Não poderia ter sido o vento? Enquanto não tivermos conhecimento dos fatos, não temos como chegar a uma conclusão adequada. Pode não ser um diamante de verdade; talvez seja uma falsificação.
Às vezes, as evidências de que dispomos não são das melhores. Felipe adentra o consultório de sua terapeuta anunciando:
- Você não vai poder me ajudar porque eu sou um caso perdido.
-Como você sabe?
-Porque já fui a quinze terapeutas e nenhum conseguiu me ajudar.
-Quanto tempo você ficou com cada um?- indagou a décima sexta terapeuta.
-Uma sessão, e não senti melhora nenhuma.
-Você está se baseando numa evidência falha, porque uma sessão não basta para fazer qualquer diferença.
Edson, vice-presidente de um banco, fica furioso ao descobrir que sua sala, no novo edifício para onde a sede do banco será transferida, será menor que a antiga. Nesta organização, o tamanho das salas é proporcional ao grau de importância do cargo de cada um. – todo mundo sabe que quem tem duas janelas na sala ocupa um lugar mais alto na hierarquia do que aqueles cujas salas têm uma ou nenhuma janela.
Edson se convence de que essa é a forma de lhe comunicarem que ele está sendo rebaixado, ou que já não é mais tão importante para o banco quanto costumava ser. A evidência em que suas conclusões se baseiam é o tamanho da sala. Só mais tarde, depois de muito sofrimento, ele resolve confirmar os fatos e sai medindo as salas de todos os outros executivos; ele descobre então que todos estão em salas menores, porque o novo edifício é mais apertado que o antigo.
Por mais que esse questionamento das evidências possa fazer sentido, não raro somos demovidos de fazê-lo; podem procurar nos convencer a não cometermos o atrevimento de buscar outras explicações possíveis, na ausência de fatos concretos. Se dizemos, por exemplo: “Talvez ele não tenha querido dizer isso que está parecendo”, ou “Pode ser que ele não estivesse se sentindo lá muito bem”, alguém,vai responder: “Deixa de ser bobo. Você está querendo arrumar desculpas para justificar o comportamento daquele cretino.”
É até possível que ele seja de fato um cretino. Por outro lado, porém, se você não tem nenhuma evidência que comprove isso de alguma forma (Isto é, se houver alguma outra explicação possível), é tão pouco razoável pecar por excesso de pessimismo quanto por excesso de otimismo.
É mais provável que encarar as coisas pelo lado positivo nos ajude a questionar as evidências do que adotar um ponto de vista negativo. E, quando questionamos as evidências, sofremos menos.
Como ativar os seus pontos fortes III
Atribua responsabilidades
De quem é a culpa? Essa é uma pergunta recorrente – e, como as pessoas quase sempre pensam em termos de tudo ou nada, certo ou errado, 8 ou 80, sem meio termo, em geral se responde: “A culpa é toda minha”, ou “A culpa é toda deles”.
Raramente a culpa está de um lado só - e é importante atribuir cuidadosamente as responsabilidades para podermos pensar com clareza. Podemos estar nos eximindo de toda e qualquer responsabilidade, ou aceitando responsabilidade demais. A questão da responsabilidade dos nossos pais por tudo aquilo que somos hoje, por exemplo. Não são poucos os casos em que basta a pessoa pensar nos pais para encher-se de raiva. “Quando eu lembro do que eles me fizeram, fico furioso. Eles arruinaram a minha vida.”
É possível – mas só até certo ponto.
Os seus pais podem ter dificultado muito a sua vida. Você pode acusá-los de serem inconstantes, irracionais ou o que quer que seja. Agora que você é adulto, porém, também é responsável pela própria vida. Se pensar nos seus pais o deixa furioso, não pense neles, então. Se dar marteladas na sua cabeça, dói, então pare de martelar. Em vez de ficar ruminando o que seus pais fizeram no passado, pense no que vai fazer para melhorar a sua vida daqui para a frente. Atruibua-lhes a responsabilidade pelo que fizeram, e aceite a sua própria dose de responsabilidade pelo que vai fazer agora.
Paula viveu um casamento infeliz por dez longos anos. Quando o casamento chegou ao fim, seu primeiro sentimento foi de alívio. Mais tarde, contudo, sozinha, ela começou a mudar de idéia. “Foi tudo culpa minha”, lamenta. “Eu devia ter sido mais compreensiva. Ele não teria tido aqueles ataques de fúria se eu tivesse previsto melhor as suas necessidades. Ele não teria me traído se eu o aceitasse mais como era.” Agora, ela está se sentindo, além de sozinha, culpada. Se atribuísse corretamente as devidas responsabilidades nessa história, porém, teria de reconhecer que seu marido era um homem que tinha acessos de fúria e cometeu adultério. Talvez ela pudesse ter agido melhor, mas ele também- e não foi o que ele fez. Ademais, independentemente do que tenha acontecido no passado, Paula é responsável apenas pelo que lhe acontecer no futuro, agora.
Ao atribuirmos as devidas responsabilidades, devemos levar em consideração não apenas o que já aconteceu, mas também o que agora está alimentando o sofrimento.
Você pode achar que alguém merece ser punido por algo ocorrido no passado. Entretanto, o maior afetado pela emoção que o invade toda vez que você pensa nisso é você mesmo.Pare com isso. Cuide da sua vida. Ou você pode achar que merece ser punido por algo que já aconteceu. É sua responsabilidade, então resolver o que pode fazer para emendar a situação. Que contribuição positiva você pode fazer agora, a fim de atenuar o que houve de negativo no passado?
Talvez o ajude a atribuir as devidas responsabilidades colocar as coisas no papel. Divida uma folha de papel ao meio com uma linha e escreva tudo aquilo que é responsabilidade dos outros e tudo que é sua responsabilidade.
As contribuições podem não ser iguais. Você pode ter sofrido danos terríveis. A menos, porém, que você esteja trancafiado numa cela e impossibilitado de escapar; é você o responsável pela sua situação agora. Mesmo que não dê para você reparar a sua vida inteira, pelo menos um pedaço dela você pode consertar.
Às vezes achamos que não podemos fazer nada para mudar a situação em que nos encontramos. Por exemplo: “Se eu disser não para meu pai, ele não vai parar de reclamar e vai fazer da minha vida um inferno”. A verdade, porém, é que quase sempre deixamos que os outros transformem nossa vida num inferno. Podemos dizer: “Não dá para acreditar nos extremos de loucura a que o meu pai chega às vezes. Vou começar a ignorá-lo, por mais insanidades que ele diga, porque não adianta nada ficarmos os dois malucos”.
Os outros podem tentar nos fisgar como peixe que mordem uma isca. O pescador é responsável por jogar a isca, mas não há nada que obrigue o peixe a morder e engolir e acabar preso no anzol. Quem nos conhece bem sabe qual é a isca que tendemos a engolir – mas, se a gente sabe que existe um anzol ali em algum lugar; cabe a nós não cair na armadilha.
Como ativar seus pontos fortes IV
Não exagere
A técnica do descatastrofismo é muito útil quando nos pegamos acreditando que houve ou está para acontecer um desastre qualquer. “É o fim”, pensamos. “Acabou. Que catástrofe.”
Para invertermos esse processo, devemos parar e nos perguntar: “Qual é a pior coisa que pode acontecer?”
É mesmo... Qual é a pior coisa que pode acontecer?
-“Eu posso morrer.”
- “Eu posso sofrer uma humilhação.”
-“Eu posso ser demitido.
-“Eu posso ficam sem um tostão.”
-“Ela vai me deixar.”
-“Eles vão ficar com ódio de mim.”
Às vezes basta parar para identificar o pior para pararmos de cismar essas histórias. O que geralmente acontece é que, ao respondermos qual é a pior das hipóteses, logo vemos que aquilo não vai acontecer ou, mesmo que aconteça, não será o fim de mundo. Quando nos deixamos dominar pela ansiedade ou pelo entusiasmo, nossos pensamentos entram em ebulição e escapam do nosso controle. Às vezes é só nomear o pior em termos bem específicos para já nos acalmarmos.
Confirmar as evidências também ajuda aqui, muito embora talvez relutemos em fazê-lo. Suponhamos, por exemplo, que lhe peçam para entrar num edifício onde ninguém o conhece, pegar o elevador e ir anunciando todos os andares: “Sexto andar. Sétimo andar. Oitavo andar...”. Você provavelmente diria: “Você está brincando! Vão pensar que sou maluco.”
O único jeito de realmente verificar a sua hipótese é entrar no elevador e gritar. O que você acha que vai acontecer? Vão pensar que você é doido.
Será que vão lhe bater? Vão prendê-lo? Provavelmente não. Talvez o olhem com uma expressão de estranhamento. Será que essa experiência mudaria o rumo da sua vida? Alguém pode vir lhe perguntar por que você está anunciando os andares, e você poderia responder que foi uma aposta, que lhe ofereceram mil reais para fazer essa bobagem; ou que você queria agitar um pouco as coisas, o dia estava parado; ou então, que está pensando em criar um programa de TV do tipo “Câmera Oculta” e queria ver como as pessoas reagiriam a um estranho anunciando os andares no elevador.
Quem vive com medo de cometer um erro acaba descobrindo que cometer um erro qualquer foi a melhor coisa que já lhe aconteceu, porque muita gente nem notou e quem notou não deu a mínima. Quer dizer, a pessoa percebe que a realidade não é nem de longe tão ruim quanto ela acreditava que seria.
Um bom teste de como o público reage a um deslize é o procedimento de devolução de um produto numa loja. Não são poucos os que detestam passar por isso (uma comediante americana, por exemplo, contou a um entrevistador que uma platéia de milhares de espectadores não a incomoda, mas que ninguém lhe peça para trocar um artigo qualquer numa loja de departamentos). O que você acha que vai acontecer? Os funcionários da loja vão achar que você é um idiota. (Eles têm direito à sua própria opinião). Mas será que alguém vai sair gritando: “Ei, gente, olha só esse idiota que não conseguiu acertar a cor ou o tamanho na primeira vez!” É pouco provável.
O descatastrofismo requer questionar e averiguar a sua premissa de que o pior vai sempre acontecer. Requer questionar e averiguar as etapas que você está convencido de que levarão à pior consequência possível. Quase sempre basta nos forçarmos a parar para analisar com clareza o que está passando pela cabeça e questionar qual a probabilidade real de aquilo acontecer para reconhecermos o exagero em que estamos incorrendo.
Como ativar seus pontos fortes V
Como criar alternativas de pensamento, sentimento e ação.
Nada é mais paralisante que a noção de que só podemos fazer determinada coisa ou pensar a seu respeito de uma única forma. Afinal, se aquele único caminho estiver fechado ou levar a uma situação dolorosa, estaremos em sérios apuros.
Imagine que você esteja dirigindo em uma rua de mão única e uma árvore cai à sua frente e bloqueia a passagem. E agora? Se você acredita que a única saída da rua está fechada, então você está preso. Todavia, se você der a volta, vai poder sair e procurar outro caminho. Não dá para voltar atrás, alguém dirá. É uma rua de mão única. Sim, mas se a rua está bloqueada, talvez você possa considerar a hipótese de voltar cautelosamente pela contra-mão, ou engatar a marcha à ré.
Às vezes é preciso pensar em outros pontos de vista ou explicações para dada situação. Não precisamos necessariamente aceitar esses pontos de vista para refletir a seu respeito; no entanto, só admitir outras opções nos ajuda a encontrar saídas que não estávamos vendo até então.
Suponhamos, por exemplo, que tenhamos de trabalhar com alguém que invariavelmente encontra uma ou outra falha em tudo que façamos. Já constatamos que ela está mal intencionada e tudo o que quer é nos derrubar.
Pode ser – mas também pode ser interessante elaborar outras explicações possíveis. Talvez seja uma pessoa perfeccionista ao extremo, que não consiga deixar de fazer certos comentários. Ou uma pessoa insegura, cuja maneira de afirmar-se é menosprezando os outros. Qualquer que seja sua motivação, esse comportamento vai nos incomodar; então, se nos convencermos de que estamos lidando com uma pessoa insegura ou obsessiva, em vez de maldosa, vai ficar mais fácil trabalhar com ela. Ademais, sem provas de que uma das explicações possíveis é mais próxima da realidade do que outra, para que nos atermos à pior delas?
A tese defendida incansavelmente neste texto é que os nossos sentimentos mudam à medida que muda aquilo que pensamos – e que o modo como nos sentimos afeta os nossos atos. Portanto, podemos usar a nossa capacidade de raciocínio para mudar os nossos sentimentos e atitudes.
Experimente fantasiar uma situação em que você deve se encontrar em breve. Geralmente, imaginamos o pior: “Vou a um bar de solteiros hoje à noite e vai ser um horror.”
Entabule então um diálogo interno, na tentativa de determinar o que significa essa idéia e desenvolva alternativas. Assim:
-O que exatamente vai ser um horror?
-Eu vou me sentir mal.
- Por quê?
- Porque ninguém vai vir puxar conversa comigo.
-Se isso acontecer, não existe alguma outra opção? Será que não dá para eu ir falar com alguém?
-Mas eu são sei o que dizer.
- Então vá preparado com algumas possíveis apresentações.
Com algumas pessoas, basta admitir que estão sem graça para resolver o problema: “Fico tão nervoso nestes lugares. Quero puxar conversa com os outros, mas nunca sei o que dizer” – o que geralmente recebe como resposta um “eu também”.
-Mas suponhamos que eu diga isso e a pessoa me dê um fora.
-Qual a minha opinião de alguém que faz uma coisa dessas?
- É um idiota.
- Que sorte a minha, então ter percebido com que tipo de gente eu estava lidando antes de perder o meu precioso tempo com ela.
Em outras palavras, imagine alternativas de modo a preparar-se com antecedência para lidar com elas. Se você acha que existe apenas uma opção, um pensamento, uma atitude viável, está limitando as suas possibilidades.
Angela Maria Barranqueiro – psicóloga – Espaço Lúminis – Texto extraído e adaptado do livro: As 10 bobagens mais comuns que as pessoas inteligentes cometem –Dr. Arthur Freeman Editora Guarda chuva – janeiro 2011